Tradução: Priscila Veduatto, Daniel B. Vieira e Ricardo Costa
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Josidiah
Starym saltitava tediosamente pelas ruas de Cormanthor, o elfo
normalmente austero e melancólico estava um pouco volúvel este dia,
tanto por causa do tempo bonito quanto pelos acontecimentos recentes
da sua mais preciosa e encantadora cidade. Josidiah era um espada
cantante, uma união entre a espada e magia, protetor dos costumes
élficos e do povo élfico. E, neste ano de 253, muitos elfos
precisavam de proteção em Cormanthor. Goblinóides eram abundantes
e
até pior, o tumulto emocional dentro da cidade, a discussão entre
as nobres famílias - incluindo os Starym - ameaçava ruir tudo
aquilo que Coronal Eltargrim tinha construído, tudo aquilo que os
elfos tinham erigido em Cormanthor, a maior cidade em todo o mundo.
Aqueles,
entretanto, não eram problemas para aquele dia, não no sol de
primavera, com uma suave brisa norte a soprar. Até mesmo os parentes
de Josidiah estavam de bom humor naquele dia; Taleisin, seu tio,
tinha prometido ao espada cantante que se arriscaria a ir à corte de
Eltargrim para ver se algumas das suas disputas talvez pudessem ser
resolvidas.
Josidiah
orou para que a corte élfica voltasse ao normal, porque ele, talvez
mais do que todos os outros na cidade, tinha mais a perder. Ele era
um espada cantante, a epítome do que significava ser elfo e ainda,
nesta época curiosa, essas definições não pareciam ser tão
claras. Esta era uma época de mudanças, de grandes mágicas, de
decisões monumentais.
Esta
era a época em que os humanos, os gnomos, os halflings, até mesmo
os barbudos anões se aventuravam pelos caminhos sinuosos de
Cormanthor, além dos pináculos de pontas de agulha das estruturas
élficas de fluxo livre. Por todos os cento e cinqüenta anos de
Josidiah, os preceitos élficos pareceram bem definidos e rígidos;
mas agora, por causa do seu Coronal, o sábio e gentil Eltargrim,
havia muita disputa sobre o que significava ser um elfo e, mais
importante, que relações os elfos deveriam promover com as outras
belas raças.
"Alegre
manhã, Josidiah", veio o chamado de uma elfa, a jovem dama e
bela sobrinha do próprio Eltargrim. Ela estava em pé em uma sacada,
olhando para o jardim elevado, cujos brotos ainda não tinham
desabrochado, na a alameda além.
Josidiah
parou a meio passo, saltou alto no ar em um giro completo e pousou
perfeitamente em uma reverência, seu longo cabelo dourado
chicoteando sua face e voando novamente de forma que seus olhos, do
mais luminoso azul, flamejassem. "E a mais alegre das manhãs
para você, cara Felicity", o espada cantante respondeu. "Que
eu segure ao meu lado flores adequadas a sua beleza em vez destas
lâminas feitas para guerra".
"Lâminas
tão lindas quanto quaisquer flores que eu já tenha visto",
respondeu Felicity provocando, "especialmente quando brandidas
por Josidiah Starym ao amanhecer, na pedra plana sobre o Pico de
Berenguil".
O
espada cantante sentiu o sangue quente correndo por sua face. Ele
tinha suspeitado que alguém o estivesse espiando em seu ritual
matinal - uma dança com suas magníficas espadas, executada com o
corpo nu - e agora ele teve sua confirmação.
"Talvez
Felicity deveria se unir a mim ao amanhecer de amanhã", ele
respondeu, recuperando seu fôlego e sua dignidade, "para que eu
a possa recompensar corretamente por sua espiadela".
A
jovem fêmea riu cordialmente e voltou para sua casa e Josidiah
chacoalhou a cabeça e continuou seu caminho. Ele se divertiu
pensando como poderia recompensar corretamente a travessa fêmea,
entretanto
temeu
que, devido à beleza e posição de Felicity, quaisquer tentativas
poderiam conduzir a algo mais, algo em que Josidiah não podia se
envolver - não agora, não depois da proclamação de Eltargrim e
das drásticas mudanças.
O
espada cantante afastou tais pensamentos; era um dia muito bom para
qualquer reflexão negra e outros pensamentos sobre Felicity eram
muito distrativos para a reunião que se aproximava. Josidiah saiu
pelo portão oeste de Cormanthor, os guardas postados lá ofereceram
não mais que um aceno respeitoso enquanto ele passava ao céu
aberto.
Josidiah
amava verdadeiramente esta cidade, mas ele amava as terras além
ainda mais. Aqui fora ele estava verdadeiramente livre de todas as
preocupações e de todas as brigas insignificantes, e aqui fora
havia sempre um sentido de perigo - um goblin poderia estar
observando-o até mesmo agora, sua lança pronta para abatê-lo? -
aquilo manteve o formidável elfo na sua mais alta guarda.
Aqui
fora, também, estava um amigo, um amigo humano, um ranger que se
tornou mago chamado Anders Cinturão de Jardins, o qual Josidiah
tinha conhecido pela melhor parte de quatro décadas. Anders não se
arriscava em Cormanthor, até mesmo após a proclamação de
Eltargrim para abrir os portões aos não elfos. Ele viveu longe dos
caminhos normais geralmente viajados, em uma torre atarrachada de
excelente construção, guardada por proteções mágicas e engodos
de sua própria fabricação.
Até
mesmo a floresta ao redor de seu lar estava cheia de direções
erradas, feitiços de ilusão e confusão.
Tão
secreta era a Casa de Cinturão de Jardins que poucos elfos perto de
Cormanthor ao menos conheciam e até menos já a tinham visto. E
desses, nenhum exceto Josidiah poderia encontrar seu caminho de volta
sem a ajuda de Anders.
E
Josidiah não mantinha nenhuma ilusão sobre isto - se Anders
quisesse esconder os caminhos da torre até mesmo dele, o velho e
cauteloso mago teria pouca dificuldade em fazê-lo.
Porém,
neste dia maravilhoso, parecia a Josidiah que os caminhos sinuosos
para Casa de Cinturão de Jardins eram mais fáceis de seguir do que
o habitual e quando ele chegou à estrutura, ele achou a porta
destrancada.
"Anders",
ele chamou, entrando no corredor escurecido além do portal, o qual
sempre cheirava como se uma dúzia de velas tivessem há pouco se
extinguido ali dentro. "Velho tolo, você está aqui?".
Um
rugido feral pôs o espada cantante de prontidão; suas espadas tão
logo estavam em suas mãos com um movimento tão rápido que um
observador não conseguiria seguir.
"Anders?",
ele chamou novamente, de forma silenciosa, enquanto escolhia seu
caminho ao longo do corredor, seus pés se movendo em equilíbrio
perfeito, botas macias tocando suavemente a pedra, silencioso como um
gato de caça.
O
rugido veio novamente e foi exatamente quando Josidiah soube contra o
que ele estava lidando: um gato de caça. Um bem grande, o espada
cantante reconheceu, pelo profundo rugido ressonado ao longo das
pedras do corredor.
Ele
passou pelas primeiras portas, defronte uma da outra no corredor e
então passou pela segunda à sua esquerda.
Na
terceira - ele reconheceu - o som veio da terceira. Aquele
conhecimento deu para o espada cantante um pouco de esperança de que
a situação estivesse sob controle, pois aquela porta em particular
conduzia ao laboratório de alquimia de Anders, um lugar bem guardado
pelo velho mago.
Josidiah
se amaldiçoou por não estar mais bem preparado magicamente. Ele
tinha estudado poucos feitiços naquele dia, pensando ser o
suficiente e não querendo desperdiçar nem um momento com sua cara
enterrada em livros de magia.
Se
ele tivesse apenas algum feitiço que pudesse fazê-lo entrar mais
depressa no quarto, por um portão mágico, ou até mesmo um feitiço
que enviasse sua visão sondando através parede de pedra do quarto
atrás dele.
Ele
tinha, pelo menos, suas espadas e, com elas, Josidiah Starym estava
longe de ser impotente.
Ele
se pôs de costas contra a parede perto da porta e segurou o fôlego
firmemente. Então, sem atraso – o velho Anders deve estar em sério
perigo - o lâmina cantante girou e invadiu a sala.
Ele
sentia os arcos de eletricidade circulando por ele enquanto cruzava o
portal protegido e, então, ele estava voando, arremessado pelo ar,
para pousar batendo contra a base de uma enorme mesa de carvalho.
Anders
Cinturão de Jardins estava em pé calmamente ao lado da mesa,
trabalhando com algo em cima dela, nem se encomodando em olhar para
baixo, onde estava o atordoado espada cantante. "Você poderia
ter batido antes de entrar", o velho mago disse secamente.
Josidiah
postou-se de pé informalmente, levantando-se do chão, seus músculos
não ainda trabalhando corretamente. Convencido de que não havia
nenhum perigo próximo, Josidiah deixou seu olhar se demorar no
humano, como fazia freqüentemente. O espada cantante não tinha
visto muitos humanos na sua vida - humanos eram uma recente adição
do lado norte do Mar das Estrelas Cadentes, e não estavam presentes
em grande número dentro ou ao redor de Cormanthor.
Este
era o mais curioso humano de todos, com sua face coureácea e
enrugada e sua selvagem barba cinza. Um dos olhos de Anders tinha
sido arruinado em uma briga e parecia bem morto agora, uma película
cinza sobre o verde lustroso que uma vez havia ostentado. Sim,
Josidiah poderia encarar o velho Anders por horas a fio, vendo os
contos de toda uma vida em suas cicatrizes e rugas. A maioria dos
elfos, incluindo os próprios parentes de Josidiah, teriam achado o
velho homem uma coisa feia; elfos não enrugavam e resistiam
intactos, envelhecendo graciosamente e parecendo, ao término de
vários séculos, como quando tinham visto vinte ou cinqüenta
invernos.
Josidiah
não pensava em Anders como uma feia visão, nem um pouco. Até mesmo
os poucos dentes tortos que permaneceram na boca do homem
complementavam esta criatura que tinha se tornado, esta criatura
envelhecida e sábia, este monumento esculpido por anos debaixo do
sol e encarando tempestades, por estações lutando contra goblins e
gigantes. Parecia verdadeiramente ridículo a Josidiah que ele
tivesse duas vezes a idade deste homem; ele desejou que pudesse ter
algumas rugas como testamento de suas experiências.
"Você
deveria saber que estaria protegida", Anders riu. "Claro
que você sabia! Há, ha, estava apenas fazendo um espetáculo,
então. Dando a um velho homem uma boa risada antes de ele morrer!".
"Você
viverá mais que eu, eu receio, meu velho", disse o espada
cantante.
“De
fato, isso é uma distinta possibilidade se você continuar
atravessando minhas portas sem se anunciar”.
"Eu
temi por você", Josidiah explicou, dando uma olhada na enorme
sala - pareceu enorme para se ajustar dentro da torre, até mesmo se
tivesse consumido um nível inteiro da mesma. O espada cantante
suspeitou um pouco de magia extradimensional em trabalho no lugar,
mas ele nunca poderia descobrir e o frustrante Anders certamente não
o deixaria.
Tão
grande quanto era, o laboratório de alquimia de Anders ainda era um
lugar desordenado, com altas pilhas de caixas e mesas e gabinetes
sujos em uma confisão sem fim.
"Eu
ouvi um rosnado", o elfo continuou. "Um gato e caça".
Sem olhar para alguns frascos que estava manejando, Anders acenou com
a cabeça na direção de um grande recipiente coberto por um
cobertor. "Veja se você não chega muito perto", o velho
mago disse com um cacarejo maldoso.
"O
velho Bigodes irá agarrá-lo pelo braço e o arrastará para dentro,
não tenha dúvida!".
"E
então você precisará mais do que suas espadas brilhantes",
Anders cacarejou.
Josidiah
nem mesmo estava escutando, pois se aproximava quietamente da manta,
movendo-se em silêncio para não perturbar o gato. Ele agarrou a
extremidade da manta e, movendo-se para trás por segurança,
puxou-a. E então o espada cantante ficou de boca aberta.
Era
um gato, como havia suspeitado, uma grande pantera negra, duas vezes
- não, três vezes – o tamanho do maior gato que Josidiah já
tivesse visto ou ouvido. E o gato era uma fêmea, e fêmeas eram
normalmente muito menores do que os machos. Ela se aproximou da
gaiola lentamente, metodicamente, como se procurando por alguma
fraqueza, alguma escapatória na mesma, seus músculos ondulantes
guiando-a com graça incomparável.
"Como
você encontrou tal magnífica besta?", o lâmina cantante
perguntou. A voz dele aparentemente alarmou a pantera, fazendo-a
parar em seu caminho. Ela encarou Josidiah com uma intensidade que
roubou quaisquer palavras da boca do espada cantante.
"Oh,
eu tenho meus meios, elfo", o velho mago disse. "Eu tenho
procurado pelo gato certo durante muito, muito tempo, procurando por
todo o mundo conhecido - e pedaços dele ainda não são conhecidos
por qualquer um, a não ser por mim!".
"Mas
por que?" Josidiah perguntou, sua voz não mais do que um
sussurro. Sua pergunta foi direcionada tanto para a magnífica
pantera, como para o velho mago e, verdadeiramente, o espada cantante
não poderia pensar em nenhuma razão para justificar a presença de
tal criatura em um gaiola.
"Você
se lembra do meu conto do canyon em caixa", Anders replicou, "de
como meu mentor e eu voamos nas costas de uma coruja pra fora das
garras de mil goblins?".
Josidiah
acernou com a cabeça e sorriu, lembrando bem daquela divertida
história. Um momento depois, entretanto, quando as implicações das
palavras de Anders o acertaram, o elfo virou em direção ao mago,
uma carranca que nublava sua face bela. "A estatueta",
Josidiah murmurou, pois a coruja tinha sido não mais que uma
estatueta, encantada para produzir um grande pássaro em tempos de
necessidade de seu mestre. Havia muitos de tais objetos no mundo,
muitos em Cormanthor, e Josidiah não estava ciente dos seus métodos
de construção (no entanto, suas próprias magias não eram fortes o
bastante ao longo das linhas de encantamento).
Ele
olhou para a grande pantera, viu uma tristeza distinta, então se
voltou para Anders. “O gato deve ser morto no momento da
preparação”, o espada cantante protestou. “Assim sua energia
vital será atraída para a estatueta que você terá criado”.
"Estou
trabalhando nisso agora mesmo", Anders disse ligeiramente. "Eu
contratei o mais excelente anão artíficie para criar a estatueta da
pantera. O melhor artesão… er, artíficie, em toda a área. Não
tema, a estatueta fará jus ao gato".
"Justiça?",
o espada cantante ecoou ceticamente, olhando mais uma vez nos
intensos, inteligentes olhos amarelo-esverdeados da enorme pantera.
"Você matará o gato?".
"Eu
vou oferecer a imortalidade ao gato", Anders disse
indignantemente.
"Você
oferece morte à sua vontade, e escravidão para o seu corpo",
Josidiah rebateu, mais bravo do que jamais esteve com o velho Anders.
O espada cantante tinha visto estatuetas e as achava artefatos
maravilhosos, apesar do sacrifício do animal em questão. Até mesmo
Josidiah matara cervos e porcos selvagem para sua mesa, afinal de
contas. Então, por que um mago não deveria criar algum artigo útil a
partir de um animal?
Mas
dessa vez era diferente, Josidiah sentia em seu coração. Este
animal, este gato grandioso e livre, não deveria ser escravizado
assim. "Você fará a pantera…" Josidiah começou.
"Bigodes",
Anders explicou.
"A
pantera…" o espada cantante reiterou vigorosamente, incapaz de
discutir por causa de tal tolo nome dado a este animal. "Você
fará da pantera uma ferramenta, uma animação que funcionará
conforme a vontade de seu mestre".
"O
que alguém mais esperaria?", o velho mago argumentou. "O
que mais uma pessoa iria querer?".
Josidiah
encolheu os ombros e suspirou indefeso. "Independência",
ele murmurou. "Senão qual seria o ponto de meus
aborrecimentos?". A expressão de Josidiah claramente demostrou
seu pensamento. Um companheiro mágico independente poderia não ser
de muito uso a um aventureiro em uma situação perigosa, mas seria
seguramente preferível do ponto de vista do animal sacrificado.
"Você
escolheu errado, espada cantante", Anders replicou. "Você
deveria ter estudado para ser um ranger. Seguramente sua compaixão
segue naquela direção!".
"Um
ranger", o espada cantante perguntou, "como Anders Cinturão
de Jardins já foi certa vez?".
O
velho mago soou um longo e desamparado suspiro.
"Você
já desistiu dos preceitos de seu ofício anterior em troca do doente
fascinio dos mistérios mágicos?".
"Oh,
e teria sido um ranger muito bom", Anders respondeu secamente.
Josidiah
encolheu os ombros. "A profissão que escolhi não é tão
diferente", ele argumentou.
Anders
concordou silenciosamente. Realmente, o homem viu muito do jovem e
idealista que tinha sido nos olhos de Josidiah Starym. Isso era o
curioso sobre os elfos, ele notou que este aqui, que era duas vezes a
presente idade de Anders, fazia lembrar-se tanto dele mesmo quando
tinha um terço de sua presente idade.
"Quando
você começará?", Josidiah perguntou.
"Começar?",
ridicularizou Anders. “Por que, eu estive trabalhando em cima da
besta durante quase três semanas e gastei seis meses antes disso
preparando os pergaminhos e pós, e óleos, e ervas. Este não é um
processo fácil. E nem barato, eu devo acrescentar! Você sabe que
preço um gnomo coloca na mais simples limalhas de metal, pedaços
tão bons que poderiam ser acrescentados seguramente à comida do
gato?”.
Josidiah
realmente achou que não queria mais continuar nesta linha de
discussão. Ele não queria saber do envenenamento próximo - e isso
era realmente ele considerava que seria - da pantera magnífica. Ele
olhou para o gato, olhou fundo nos seus intensos olhos, tão mais
inteligentes do que ele normalmente esperaria.
"O
dia está bonito dia lá fora", o espada cantante murmurou, não
que ele acreditasse que Anders passasse um momento longe do seu
trabalho para desfrutar o tempo. “Até mesmo meu teimoso tio
Taleisin, Lorde Protetor da Casa Starym, costuma ter uma face tocada
pelo sol”.
Anders
bufou. "Então ele estará sorrindo este dia quando ele puser a
baixo o Coronal Eltargrim com um gancho de direita?".
Isso
pegou Josidiah de surpresa e ele suportou a risada infecciosa de
Anders. Realmente Taleisin era um elfo teimoso e irritável e se
Josidiah voltasse a Casa Starym neste dia para descobrir que seu tio
tinha esmurrado o elfo Coronal, ele não seria pego de surpresa.
"É
uma decisão de momento que Eltargrim tomou", Anders disse de
repente, de modo sério. “E valente. Incluindo as outras raças,
seu Coronal começou girar a grande roda do destino, um giro que não
vai ser facilmente parado”.
"Para
bem ou para o mau?".
"Isso
só um vidente pode saber", Anders respondeu encolhendo os
ombros. "Mas a escolha dele foi a correta, eu estou seguro,
entretanto, tem seus riscos". O velho mago bufou novamente. "Uma
pena", ele disse, “até mesmo eu fui jovem, duvido que visse o
resultado da decisão de Eltargrim, dado o modo como os elfos medem a
passagem de tempo. Quantos séculos se passarão antes que Starym se
decida se eles ao menos aceitarão o decreto de Eltargrim?”.
Isso
trouxe outro riso por parte de Josidiah, mas não um duradouro.
Anders tinha falado de riscos e certamente havia muitos. Várias
famílias proeminentes e não só os Starym, se enfureceram pela
imigração de pessoas que muitos elfos arrogantes consideraram ser
de raças inferiores. Havia alguns casamentos misturados, elfos e
humanos, dentro de Cormanthor, mas qualquer descendência de tais
uniões foi seguramente banida.
"Meu
povo irá aceitar o sábio conselho de Eltargrim", o elfo disse
determinado.
"Eu
rezo para que você tenha razão", disse Anders, "pois
seguramente Cormanthor enfrentará maiores perigos do que a disputa
de elfos teimosos".
Josidiah
olhou para ele curiosamente.
"Humanos
e halflings, gnomos e, mais importante, anões, caminhando entre os
elfos, vivendo em Cormanthor", Anders murmurou. "Por que,
eu penso, que os goblins saboreiam a idéia de tal ocorrência, que
todos seus odiados inimigos sejam misturados juntos em um guisado
delicioso!".
"Junto
nós somos muitas vezes mais poderosos", o espada cantante
argumentou. "Magos humanos excedem muitas vezes até mesmo nosso
próprio povo. Anões forjam armas poderosas e gnomos criam artigos
maravilhosos e úteis e halflings, sim, até mesmo os halflings, são
aliados espertos e adversários perigosos".
"Eu
não discordo de você", Anders disse, acenando sua bronzeada e
coureácea mão direita, com três dedos, pois havia sido mordida por
um goblin, no ar para acalmar o elfo. "E como eu disse,
Eltargrim escolheu corretamente. Mas ore para que as disputas
internas sejam resolvidas, ou as dificuldades de Cormanthor virão
dez vezes pior".
Josidiah
acalmou-se e acernou com a cabeça; ele realmente não podia
discordar com o argumento do velho Anders e, na realidade, tinha
abrigado esses mesmos medos por muitos dias. Com a união de todas as
raças debaixo do mesmo telhado, os caóticos goblins teriam causa
para se unir em maior número do que antes. Se o povo variado de
Cormanthor ficasse junto, ganhando força na sua diversidade, esses
goblins, qualquer que fosse seu número, seriam seguramente
repelidos. Mas se o povo de Cormanthor não pudesse enxergar um
caminho para tal dia de unidade…
Josidiah
deixou o pensamento vagar pela sua consciência, deixou de lado para
um outro dia, um dia de chuva e névoa, talvez. Ele olhou para a
pantera e suspirou até mais tristemente, sentindo-se realmente
desamparado. "Trate bem o gato, Anders Cinturão de Jardins",
ele disse e soube que o velho homem, uma vez um ranger, realmente
faria assim.
Josidiah
então partiu, fazendo seu caminho mais lentamente enquanto retornava
à cidade élfica. Ele viu Felicity novamente na sacada, usando uma
leve roupa de seda e um sorriso travesso e convidativo, mas ele
passou por ela como uma onda. O espada cantante não se sentia
disposto para jogos.
Muitas
vezes nas próximas semanas Josidiah voltou à torre de Anders e
sentou-se quietamente em frente à gaiola, comungando silenciosamente
com a pantera enquanto o mago fazia seu trabalho.
"Ela
será sua quando eu terminar", Anders anunciou inesperadamente,
um dia quando a primavera tinha se tornado verão.
Josidiah
encarou inexpressivamente o velho homem.
"O
gato, eu quero dizer", disse Anders. "Bigodes será seu
quando meu trabalho for terminado".
Os
olhos azuis de Josidiah se abriram largos em horror, entretanto
Anders interpretou o olhar como uma exaltação suprema.
"Ela
me será de pouco uso", explicou o mago. "Eu raramente me
aventuro ao ar livre estes dias, e na verdade, tenho pouca fé que
viverei muito mais de que alguns invernos. Quem melhor para ter minha
maior criação, digo eu, do que Josidiah Starym, meu amigo, que
deveria ter sido um ranger?".
"Eu
não aceitarei", Josidiah disse abruptamente, sério.
Os
olhos de Anders se alargaram em surpresa.
"Eu
me lembraria para sempre o que o gato foi", disse o elfo, "e
o que ela deveria ser. Sempre que eu chamasse seu corpo escravo a meu
lado, sempre que esta criatura magnífica se sentasse, esperando meu
comando para trazer vida aos seus membros, eu sentiria que teria
ultrapassado meus limites como um mortal, que eu teria jogado como um
deus, como um indigno de minha tola intervenção".
"É
apenas um animal!" Anders protestou.
Josidiah
estava alegre em ver que ele tinha atingido o velho mago, um homem,
que o elfo sabia, era muito sensível para este presente
empreendimento.
"Não",
disse o elfo, virando-se para fitar profundamente os olhos sábios da
pantera. "Não esta aqui". Ele se calou, então, e Anders,
irado em protesto, voltou para o seu trabalho, deixando o elfo
sentar-se e fitá-la, compartilhando silenciosamente seus pensamentos
com a pantera.
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