Volothamp
Geddarm, ao vosso serviço, cavalheiros, definindo as verdades sobre
Faerûn diante de vossas senhorias como moedas sendo lançadas como
uma chuva dourada sobre os ombros de um anão trabalhando com o
martelo, estampando moedas feitas de ouro macio. No dia de hoje vos
escrevo a respeito de outro par de contos de tesouro recolhidos dos
registros do grande reino de Cormyr.
A
Harpa da Cura
Debates
ainda enfurecem os círculos de estudiosos em Cormyr a respeito se o
Reino Florestal perdeu, no passado, uma grande magia na forma de
harpa que tinha a capacidade de curar aqueles que a tocavam enquanto
esta tocava sozinha, ou se, por pouco, se libertou de um grande mal.
Aubleth
Coroa-Argenta
(de
989 CV até 1.066 CV)
Um
herói dos cavaleiros de Cormyr, sempre sorridente e de coração
valente, Aubleth foi, durante alguns anos, o membro mais jovem da
elite da Guarda Grifo do Rei Arangor (uma ordem de cavaleiros que
montavam grifos e que agiam como olhos, enviados e comandantes de
batalha para o rei). A lança que ele usava, posteriormente, o ajudou
a reivindicar a vida de Thauglor[1],
o último grande dragão a caçar nas terras de Cormyr.
Aubleth
estava sempre barbeado, tinha os cabelos loiros, ombros largos, tinha
tendência a engordar e os olhos eram de um tom acastanhado, âmbar.
Ele era um amigo próximo de Gardrath Chifre-Berrante; dos dois,
Aubleth era o mais brincalhão e o mais esperto.
Gardrath
Chifre-Berrante
(de
984 CV até 1.019 CV)
Um
cavaleiro alto e esguio da Guarda Grifo, Gardrath ajudou a matar o
dragão Thauglor, junto do amigo Aubleth. Ele tinha um comportamento
deveras nobre e era um homem carregado de sentimentos. Tinha cabelos
negros e olhos azuis penetrantes que assumiam uma tonalidade mais
escura quando ele estava furioso, ou apaixonado.
O
valoroso serviço de Gardrath elevou a família dele (o clã era
considerado nobre em Águas Profundas[2])
até a posição de nobreza de Cormyr. Ele ainda é lembrado nas
lenda pelos alojamentos dos Dragões Púrpura pela morte corajosa que
teve: Quando uma febre terrível o lançou para o leito de morte
durante um longo inverno, ele vestiu as melhores botas que tinha,
pegou a melhor espada e saiu para caçar lobos. Ele foi encontrado
morto na manhã seguinte sob os corpos de seis destas feras.
Lareth
Caça-Prata
(de
984 CV até 1.019 CV)
Um
esbelto e sarcástico espadachim da corte, Lareth fez amizade com
Halartan Esporão-de-Wyvern logo que chegou ao reino. Quando eles iam
beber juntos, as observações divertidas de Lareth frequentemente
deixavam Halartan cuspindo e bufando as bebidas pelo nariz.
Lareth
tinha os cabelos loiro acinzentados e um bigode fino, era jovial e
tinha jeito com as damas da corte, tendo romances com várias ao
mesmo tempo.
Ele
terminou os últimos dias de vida casado e feliz com a filha de um
estalajadeiro de origem do povo, chamada Roatha Ildraen, e como o
Senescal do antigo forte de beira estrada, agora desaparecido,
Virapedra[3].
Aiken
Esporão-de-Wyvern
(de
1.008 CV até 1.082 CV)
O
filho do Lorde Gerrin Esporão-de-Wyvern, Aiken tinha cabelos e olhos
castanho escuros. Era magro e baixo, de uma natureza quieta e leal.
Um astuto investidor e construtor, Aiken solidificou as fortunas da
família ao construir casas e lojas por toda a capital Suzail.
A
Harpa Que Tocava Sozinha
Em
uma estalagem de beira de estrada ao norte de Suzail, não muito
tempo após a morte do grande dragão Thauglor, quatro homens andando
de volta para casa após uma noite de comemorações, testemunharam
uma cena estranha e misteriosa: em uma clareira ali perto fora da
estrada, um brilho pouco mais suave do que o de uma fogueira
resplandeceu. Olhando melhor, eles notaram que o brilho vinha de uma
harpa que flutuava e cujas cordas se moviam como se tivessem sendo
tocadas por mãos invisíveis. Em seguida, plebeus doentes e
mutilados começaram a se rastejar por entre as árvores até a harpa
para tocá-la, pois ao fazer isso todo o mal que os afligia ia embora
e eles ficavam curados. Subitamente vigorosos e fortificados, eles
jogavam fora muletas e xales, riam e gritavam de alegria e corriam
para dentro da floresta.
Os
quatro homens na estrada que descobriram primeiro a harpa eram todos
cortesãos: Aubleth Coroa-Argenta, Lareth Caça-Prata, Gardrath
Chifre-Berrante e Aiken Esporão-de-Wyvern. Não eram homens dados a
mentiras, nem eram homens que exageravam na bebida.
Os
plebeus pareciam sair das árvores e correr de volta para elas, e
isso pareceu muito suspeito aos quatro – assim como a própria
existência da harpa, desconhecida e, ainda assim, a uma pequena
caminhada das muralhas de Suzail. O serviços dos cortesãos lhes
pareceu claro: tal magia deveria ser investigada e dada à custódia
da coroa. Os quatro, então, entraram na clareira e pegaram a harpa –
e foi quando os plebeus que estavam por ali sumiram como fumaça,
tando os fracos quanto os revigorados, e a harpa passou a ficar
silenciosa e apagada nas mãos dos quatro.
Eles
levaram a harpa diretamente para a Corte Real e a apresentaram ao
mago de guerra que estava de serviço. Nos dias que se seguiram, uma
grande quantidade de magia foi conjurada sobre eles e sobre a harpa,
na tentativa de descobrir a verdade sobre a origem e poderes dela.
As
conclusões foram as seguintes: por razões desconhecidas, a harpa
caía em silêncio e permanecia assim até que qualquer dos quatro
estivesse a pelo menos seis passos dela e, caso contrário, esta
brilhava, levitava até a altura do peito de um homem (da mesma forma
como foi vista pela primeira vez) e tocava melodias que ninguém em
Suzail poderia identificar a origem.
Aqueles
que a tocavam mencionavam uma sensação acalentadora e o banimento
de qualquer tipo de dor que por ventura estavam sofrendo – mas
diferente dos plebeus que foram vistos pelos quatro, ferimentos e
outras aflições não desapareciam dos corpos de tais pessoas e as
dores logo retornavam
Um
dos magos de guerra da época, Thamaeler Mornalar, suspeitou que a
harpa conjurava magias nas mentes daqueles que a tocavam diretamente
(ou seja, a tocavam com a pele) enquanto esta estava tocando –
magias essas que pareciam dormentes, mas que permaneciam nas mentes
deles.
Quando
outras magias eram conjuradas para dissipar e banir todas as magias
daqueles que haviam tocado a harpa, muitos destes reagiam com uma
raiva momentânea e com breves, porém histéricos ataques contra
pessoas ao redor. Esse frenesi acabava assim que a dissipação
mágica fazia efeito.
Aubleth
Coroa-Argenta havia estado sonâmbulo antes do aparecimento da harpa,
mas em uma noite alguns meses depois que ele ajudou a trazê-la para
Suzail, ele irrompeu pela sala onde ela era mantida, golpeando
despropositadamente dois guardas e um mago de guerra enquanto este
estava dormindo, e tentou quebrar a harpa com as próprias mãos.
A
harpa começou a ressoar descontroladamente por toda a Corte Real,
alcançando distâncias impossíveis e despertando muitos. Guardas e
magos de guerra invadiram a câmara e se depararam co uma aparição
translúcida de uma humana trajando um manto – presumivelmente uma
feiticeira, de semblante pleno, mas com olhos intensos e
inflamados – em pé, flutuando sobre a harpa. Estalos elétricos
saíam das mãos dela, parecendo simultaneamente juntar os pedaços
da harpa despedaçada e drenar a vida do contorcido Aubleth. Quando
magias rapidamente conjuradas interromperam o processo, a aparição
os encarou e, então, desapareceu – levando consigo a harpa.
A
mulher não foi vista novamente, mas a harpa apareceu em muitos
locais por toda a Cormyr ao longo daquela mesma noite, brilhando para
a existência enquanto tocava auto seus tons e desaparecia tão
rapidamente quanto surgiu. A música da harpa despertou muitos
daqueles que a haviam tocado previamente, fazendo com que levantassem
das camas e atacassem outros, fossem até cavalos selados, andassem
obstinadamente até determinados locais, e assim por diante. Pessoas
afetadas logo pararam de fazer o que estavam fazendo, e aqueles
enfeitiçados não tinham conhecimento de porque estavam agindo de
tal maneira, ou como chegaram até os locais onde estavam.
O
enfraquecido e desorientado Aubleth Coroa-Argenta recuperou a saúde
completamente com o passar do tempo, mas ela jamais conseguiu se
lembrar que quaisquer das ações que tomou ou quaisquer outros
eventos que aconteceram naquela noite.
A
Harpa da Cura tem sido, de acordo com contos de taverna e de beira de
fogueira de acampamento, vista de tempos em tempos por toda Cormyr
desde então, embora os avistamentos mais recentes tenham sido menos
recorrentes e separados entre décadas e décadas, às vezes até
saltando gerações inteiras. Muitas pessoas dizem que a harpa é um
sinal do favor dos deuses para com o reino de Cormyr, uma esperança
para os feridos e os aflitos pelo reino.
Thamaeler
tinha, em vez disso, conclusões mais sombrias e insistiu que esses
pensamentos fossem registrados tanto nos arquivos da corte quanto nos
anais da Irmandade dos Magos de Guerra. Ele sentia que a harpa era um
dispositivo usado por um poderoso mago ou qualquer outro arcano
desconhecido para trazer as mentes de muitos cormyreanos para os
domínio do controle mágico dele, possivelmente para algum propósito
futuro de ação hostil para com o reino, ou ao menos para afetar a
regência dos Obarskyrs.
Alguns
magos de guerra acreditam que a tal aparição de feiticeira seja de
origem thayana, enquanto outros acreditam que ela serve uma família
nobre exilada, ao Culto do Dragão, aos Zhentarim ou a alguma
conspiração sembiana; todas essas crenças, se bem lembrado, são
apenas especulações.
A
maioria das pessoas comuns de Cormyr acreditam que a Harpa da Cura é
uma coisa boa que foi enviada pelos deuses e que a coroa tentou
pegá-la para si – mas pela graça dos deuses que a enviaram, esta
conseguiu escapar, para vagar por Cormyr por conta própria.
Até
os dias de hoje, pregadores de peça, bandidos e ladinos
frequentemente tocam harpas no meio da noite para tentar atrair
pessoas para a floresta. Tal música acaba deixando magos de guerra e
os Dragões Púrpura completamente de alerta. Provavelmente eles
lidarão menos gentilmente com tais harpistas se estes acabarem sendo
pegos.
O
Fantasma Pedra-Negra
Estes
mesmos quatro amigos se envolveram em outro tipo de tesouro perdido
logo após os eventos do encontro com a Harpa da Cura: a mansão
assombrada de Pedra-Negra e o desaparecimento das pessoas que moravam
lá, bem como todo o tesouro.
Pedra-Negra
ficava na margem oeste do Rio Água-Estrela, sobre um penhasco alto e
pedregoso, no lado interno onde o rio fazia uma curva para se virar
em direção ao mar. Este mesmo penhasco é visível até os dias de
hoje, mas exceto isso é uma colina vazia, exceto por algumas ovelhas
pastando e uma pequena torre de vigília dos Dragões Púrpura.
Naqueles
dias, um bosque denso cobria o local, e Pedra-Negra – hoje apenas
um punhado de pedras tombadas cobertas por arbustos, onde a mansão
desabou por sobre os porões – erguia-se como uma mão negra cheia
de dedos entre as árvores.
Pedra-Negra
era a morada dos Theresparin, uma família de tecelões e
proprietários de terras que ascendeu rapidamente, e que era
conhecida pelos compatriotas cormyreanos pelos vastos rebanhos de
ovelhas.
Então,
chegou o dia que o inquieto e detalhista líder da casa, Naronder
Theresparin, falhou em comparecer em uma reunião esperadíssima na
presença dos oficiais da corte. Então, outras reuniões foram
perdidas até que chegou a notícia às autoridades e vizinhos que os
Theresparin – e todos os empregados deles – já não eram vistos
há alguns dias.
Tendo
em mente a experiência que tiveram com a Harpa (e com as
consequências do evento, onde a cooperação deles entre si
surpreendeu), o rei enviou Aubleth Coroa-Argenta, Lareth Caça-Prata,
Gardrath Chifre-Berrante e Aiken Esporão-de-Wyvern para investigar o
fato.
Eles
encontraram Pedra-Negra completamente vazia – despojada até as
paredes, sem vivalma. O único sinal de morte foi uma enorme mancha
de sangue, como daquelas que só poderiam ter sido deixadas por uma
vida humana, ou de algum número de criaturas grandes, que se esvai.
A mancha cobria a maior parte do piso do grande salão de festas
ladeado por sacadas.
Os
quatro cortesãos exploraram Pedra-Negra de uma ponta a outra, até
mesmo nos drenos, porões e telhados (assassinos, naqueles dias,
haviam começado a colocar os corpos nos telhados para que as aves
carniceiras e o tempo se livrassem deles), mas não encontraram mais
nada. Dois deles ficaram de guarda enquanto os outros dois foram
buscar um mago de guerra para tentar vasculhar magicamente aquele
local vazio.
Estes,
também, não encontraram nada. Os Theresparin, os servos e todos os
móveis e riquezas[4]
da casa – até mesmo os cavalos e a comida deles nos estábulos –
haviam desaparecido, jamais vistos novamente.
Até
os dias de hoje, ninguém soube mais nada sobre eles, pois no começo
se pensava que eles estavam morando em algum lugar próximo, mas com
o passar do tempo, logo a história da família Theresparin foi
desaparecendo e caiu no esquecimento das coisas que ficam no passado.
Boatos
sobre Pedra-Negra ser um local assombrado acabou nascendo por causa
do que se sucedeu com os quatro cortesão logo após o primeiro dia
de busca deles. Eles haviam decidido permanecer na casa e dormir por
lá fazendo turnos de vigia, suspeitando que bandidos escondidos nos
bosques poderiam ter saqueado a casa – e poderiam agora retornar
para procurar pelas paredes por passagens secretas e coisas do tipo,
talvez após torturar um dos residentes atrás de informações mais
detalhadas sobre o paradeiro de locais secretos espalhados pelo
local.
Nenhum
bandido apareceu, mas os quatro cortesão ouviram a voz trêmula de
uma mulher sussurrando próximo dos ouvidos deles. Nenhuma pessoa
visível era o orador. Eles passaram as lâminas que portavam por
onde deveria haver a pessoa que lhes falava, mas nada surgiu ou
aconteceu. A tal voz dizia coisas como “Todos,
todos se foram”, e “Isso
é coisa dos elfos, sem dúvida alguma”.
Lareth
Caça-Prata ouviu, mas somente ele, uma voz masculina também, que
falava fria, porém sonhadoramente: “O
sangue os chamou. Não há como escapar”,
e depois mais tarde, “Cuidado
com a espada que se transforma em pégaso. Ela, que a carrega, pode
romper os portões”.
Quem
eram esse oradores fantasmagóricos, e o que eles estavam querendo
dizer com isso, permanece até hoje como meras conjecturas –
durante duas noites após os quatro ouvirem tais vozes (e uma noite
após os magos de guerra vasculharem Pedra-Negra inteira, até onde
eles a conheciam), a mansão pegou fogo e queimou como uma tocha,
mesmo sendo feita de pedras por dentro e por fora, queimando tudo com
um calor tão intenso que quase derreteu as paredes. Logo depois pela
manhã, a mansão desabou até o estado que permanece até hoje – e
anos depois foi reclamada pela coroa, que esperava pelo retorno dos
desaparecidos Theresparin.
Notas
de Rodapé de Elminster
[1]
O nome completo, da forma como os dragões gostam de colocar tais
coisas, “Thauglorimorgorus, a Destruição Negra”. Sobre o tolo
comentário de Volo sobre este ter sido “o último grande dragão a
caçar nas terras de Cormyr”, saibam vocês que tais palavras são
um chamariz, como trombetas soando para convocar dragões de todos os
lugares a vir para o belo Reino Florestal, furiosos, apenas para
provar que Volo está enganado – como se tal prova fosse realmente
necessária.
[2]
Isto é uma verdade, embora as relações de sangue parecem – se é
que eram – qualquer medida de causa comum, como lealdade, aparência
ou comportamento. Os Chifre-Berrantes em ambos os locais eram
conhecidos por uma ousadia enérgica, alguém poderia dizer; outros a
denominavam “inconsequente”, “impetuosamente desnecessária”
e coisa pior. Tenha em mente que não se confunda os Chifre-Berrante
com os Soa-Trombeta; muitos duelos já começaram por causa disso.
[3]
Virapedra, saibam vocês, ficava no lado leste do Caminho Calantar,
ao norte de Mar Imerso. Lareth fez uma fortuna e uma reputação para
si próprio ao criar ágeis e belos cavalos lá, e os vendia para
todos que passavam por lá – eu inclusive. Ele tinha três filhas
pequenas, três fadinhas fogueteiras e arteiras, me recordo muito
bem; elas jogaram maçãs em mim por diversão, então eu criei três
esferas de água a partir do bebedouro dos cavalo, cada uma para
molhar aquelas três pequenas cabecinhas loiras. Guardei essas
memórias, vejam bem, mesmo depois de tanto tempo; essas lembranças
são tudo o que resta daquelas três garotas agora.
[4]
Estas estavam estimadas pelo escriba-contador deles, na época, em
uma quantia de cerca de 80.000 moedas de ouro, além de várias vezes
essa quantia em gemas e barras comerciais, escondidas ou estocadas em
uma dúzia de locais conhecidos deles.