30 de setembro de 2020

Dicas para criação de Caerns em um Cenário Nacional


Em LoA fica bem estabelecido, não dá pra pensar as coisas em termos de cidades, no mínimo devemos tratar em termos de estados, ou regiões geográficas ainda mais abrangentes. Motivo pelo qual, cenários como “Rage Across NY”, são exceções bem questionáveis. Cenários de lobisomem costumam ser abrangentes e abarcam grandes áreas geográficas pela própria natureza e mobilidade dos Metamorfos no jogo.
São os “By Night” de Vampiro que, em linhas gerais, se restringem aos limites de uma única cidade ou região metropolitana, em Lobisomem costumamos tratar de grades regiões geográficas ou umbrais (Rage Across The Amazon e Rage Across the Heavens) ou até mesmo de países inteiros (Rage Across Australia, Rage Across Rússia, Rage Across Egypt). O que nos faz crer que o melhor é focarmos, no mínimo, em estados ao abordar o cenário nacional para o jogo.
Na Amazônia, nem sequer trataríamos de recortes estaduais, mais pensaríamos o cenário regional de conjunto com base no Metaplot da Guerra na Amazônia, que, com razão, é o plot central em todos os livros oficiais do jogo que abordam a América do Sul, ainda que a forma como esse plot seja tratado nos materiais oficiais possa e deva ser questionado.
Um Caern no Rio de Janeiro, por exemplo, seria o único ou, talvez, um dos dois únicos Caerns Garou em todo o Estado. Vampiros estão atados às cidades pela necessidade frequente de presas humanas para se alimentar e, na maioria dos casos, restritos a elas pelas dificuldades de locomoção, afinal, normalmente, para eles, é muito ariscado viajar durante o dia em segurança e sem chamar atenção.
Lobisomens, entretanto, não têm essas preocupações, a maioria prefere evitar grandes concentrações humanas e eles tendem a se movimentam bastante, cobrindo centenas de quilômetros apenas correndo em suas formas lupinas ou mesmo viajando por pontes da lua ou percorrendo atalhos.
Não faz sentido com o que o jogo estabelece criar um caern em cada cidade onde há presença Garou. Caerns são raros e uma seita pode cobrir centenas ou até milhares de quilômetros quadrados. Afinal, o território que uma seita pode reivindicar está muito além das estritas divisas de um dado Caern.
Novamente, uma seita que reclama um Caern em Niterói-RJ, pode ter Matilhas que surgiram e seguen atuando em diversas cidades de todo o estado do Rio de Janeiro, e até contar com alguns membros oriundos de outros estados ou países. Essas matilhas apenas se encontrariam ocasionalmente no Caern ou se revezariam guardando suas divisas, apenas se reunindo em Assembléias uma vez a cada ciclo lunar ou algo assim. É assim que funcionam as coisas em LoA, segundo as referências oficiais.
Sim, os suplementos oficiais para o jogo deixam claro que há muitos locais propícios e caerns abandonados na América do Sul, o problema é a dificuldade de reunir Garou suficientes para o sucesso do ritual de criação, e depois, manter guerreiros suficientes para resistir ao assédio da Wyrm e de metamorfos hostis na região. Mesmo aqui, Caerns são raros e valiosos.
No sudeste, onde presumidamente a presença de metamorfos nativos deve ser consideravelmente menor, tendo em vista a degradação dos ecossistemas e a raridade de animais nativos, é possível conceber a presença de Caerns menores, de nível 1 ou 2, o que potencialmente aumentaria seu número e distribuição, mas no Norte do país, por exemlo, um Caern precisaria ser relativamente grande e poderoso para manter uma seita capaz de resistir ao assédio de Metamorfos hostis e das forças da Wyrm.
Caerns em áreas urbanas são exceções em LoA. A maioria deles ficariam em regiões rurais ou selvagens. Mas jogadores em geral, e muitos narradores também, tendem a inverter as coisas. Todos querem colocar qualquer areazinha verde no centro de sua própria cidade como um Caern, como o exemplo do Central Park no manual básico da segunda edição. Se para isso se lança mão da Regra de Ouro, ok. Mas isto não é muito coerente com o que o jogo estabelece ao longo dos livros oficiais.
Em uma região como o Brasil, onde, segundo a lore do jogo, as áreas selvagens são dominadas por metamorfos hostis, os Garou tendem a ficar acuados nas áreas rurais e periféricas, entre os “sanguessugas” que dominam as cidades e os Feras nas regiões selvagens. Quando se tem uma perspectiva nacional, do quadro geral, é importante balancear as coisas. Quantos dos caerns do Brasil são urbanos? Quantos são rurais? E quantos estão em regiões selvagens?
Em estados como São Paulo ou Rio de Janeiro, com uma concentração demográfica bem acima da média nacional, um Caern de nível 3 ou 4 poderia influenciar diretamente mais de uma dezena de municípios, além de, obviamente, influenciar indiretamente (mas decisivamente) todo o cenário sul-americano.
Qualquer totem de matilha com um encanto de ponte espiritual é capaz de transportar uma matilha inteira para uma distância de até 620 km em um intervalo de tempo razoavelmente curto e sem necessidade de caerns em qualquer dos dois extremos da ponte!
Em apenas 24 horas um lobo cinzento real pode percorrer 200 km sem maiores dificuldades! Duzentos quilômetros em um dia nem chega a ser uma marca tão impressionante assim quando se pára pra pensar que mesmo um reles maratonista humano corre 40 km em apenas duas horas. Porém, essa distância é significativamente maior do que a distância, em linha reta, entre Niterói, no Rio de Janeiro, e Juiz de Fora, em Minas Gerais, por exemplo.
Trace um raio de 620 km do centro do seu Caern e terá uma boa idéia do tamanho da área que uma seita pode influenciar diretamente. Todo o estado do Rio de Janeiro, por exemplo, tem apenas 70 km de leste a oeste e só 44 km de norte à Sul! A distância em linha reta entre Rio e São Paulo é de 361,15 km, entre Rio e BH é 341,26 km, entre Rio e Vitória é 415,95 km. Com uma mera ponte espiritual conjurada por um totem de matilha, os Garou da um seita em Niterói pode estar em poucas horas em Paranaguá, no Paraná, ou em Conceição da Barra, na fronteira do Espírito Santo com a Bahia.
Mais do que isso, qualquer membro de nossa hipotética seita fluminense, correndo na forma lupina, pelo mundo físico mesmo, em menos de um dia poderia chegar a Barbacena, Angra dos Reis ou Volta Redonda. Na verdade, daria pra chegar a Juiz de Fora em um só dia correndo com tranquilidade na forma lupina a partir de Niterói! Entende o quanto isso muda a nossa perspectiva de espaço? Lobisomens são impressionantes sob qualquer perspectiva!
Outro aspecto importante a considerar é que os Garou não têm nenhuma razão para observar as fronteiras arbitrárias traçadas pelos humanos. Nos limites entre municípios, estados ou países não há uma linha traçada, e mesmo que houvesse, porque um Garou se importaria com ela?
Assim, uma única Seita fluminense poderia influenciar diretamente não apenas todo o território do Estado do Rio de Janeiro, como atuar cotidianamente em territórios de estados vizinhos, o que potencialmente poderá gerar conflitos e proporcionar ganchos para ótimas histórias.
Obviamente, quilometragem é algo muito relativo. Divisas naturais de influência de caerns e seitas realmente não tem motivo para se aterem a questões humanas, mas serras e rios profundos ou caudalosos seriam capazes de impor fronteiras naturais efetivas mesmo aos Garou. Quarenta quilômetros na tundra ou na planície são muito diferentes de quarenta quilômetros através da Serra do Mar, tanto por exigirem grandes desvios para serem contornados, quanto pela dificuldade do terreno. Mas, ainda assim, é necessário considerar a possibilidade de lançar mãos de pontes espirituais.
Jogadores e narradores, naturalmente pensam em uma perspectiva de quem dificilmente deixa os limites de sua própria cidade. Não costumamos parar para pensar a fundo sobre essas questões de distâncias e de como a perspectiva Garou sobre distâncias e territórios pode ser diferente do ponto de vista de meros humanos.
O senso comum é muito mais próximo de uma perspectiva de Vampiro. Nossa própria percepção, diferente daquela de lobos, que possuem territórios inadvertidamente vastos e perseguem presas por dezenas de quilômetros, é muito limitada. E é ainda mais limitada quando comparada com a de seres capazes de transpor enormes distâncias através da Umbra ou de pontes da lua ou espirituais. Não poderia ser diferente.

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