8 de agosto de 2016

Monstros - Cocatriz


Histórico

Em meio as areias movediças do deserto, vivia uma serpente deveras sórdida, cuja respiração e olhar mataram muitos guerreiros valentes. Ela deslizava para dentro das tendas para envenenar crianças que brincavam e perseguia crocodilos nos leitos dos rios em busca de seus ovos. O povo a chamou de basilisco. Sua lenda se espalhou pelo Oriente Médio, e dela originou-se o cocatriz.

O mal do tipo mais maligno se escondia no coração do basilisco. Tal alma vil não poderia simplesmente morrer, mas procurava um novo hospedeiro através do qual prosseguia as suas práticas fétidas. Durante os dias negros da Praga Djinni, quando os maus espíritos alimentavam-se da terra, o basilisco desovou 39 vezes, cada vez criando outro a sua imagem. Juntos, os monstros criaram um grande deserto, e 10.000 homens morreram diante deles. Finalmente, a grande coragem dos guerreiros, as artes da feitiçaria sagrada e o favor de Allah (Bem-aventurado seja Ele!) trouxeram um fim à praga.

O magnífico galo, portador do sol e mensageiro da vontade e da misericórdia de Deus, foi abençoado com o poder de superar a criatura. Com o tempo, o canto de um galo sinalizava a morte de um basilisco, e o povo se alegrava. A cada dia, o grandioso galo saia quando o sol se levantava, procurando as serpentes malignas. Seu canto mantinha a vítima petrificada, e ali a luz bendita de Deus transformava o monstro em cinzas. Assim, quando o último dos basiliscos ouviu o canto do galo, ele congelou. Sabendo que seus prazeres blasfemos haviam chegado ao fim, ele clamou aos deuses do submundo por misericórdia.

Os poderes tenebrosos viram o ocorrido e atenderam ao desespero do basilisco. Eles concederam a criatura uma última chance de atacar de modo que ela pudesse devorar o galo. Sendo agraciado, o basilisco torcia e se contorcia no chão. Os movimentos atraíram o galo faminto, que procurava a refeição da manhã. Mas, como todos os presentes concedidos pelo Inimigo, a sua bênção não era tão fortuita quanto o basilisco esperava. A contorção do basilisco o esgotou. O galo, inteligente demais para ficar parado, bicou e cutucou sua refeição, fugindo da cauda viperina e do hálito venenoso até que o sangue do basilisco engrossa-se como betume na terra.

No entanto, o Maligno conseguiu sua vingança. Enquanto o galo consumia o basilisco, a alma do basilisco consumia o galo. Em um horrível instante, o corpo da criatura mudou, e o magnífico galo, corrompido, transformou-se para se adequar a sua nova alma. Assim foi o surgimento do cocatriz.

Descrição

Basiliscos percorriam a Líbia nos tempos antigos. Serpentes com metros de comprimento, cuja picada, cauda e olhar poderiam matar. O hálito do basilisco secava plantas e abria rochas, criando assim, o deserto da Líbia. Com cada homem, mulher e criança que vitimou, a má reputação da criatura cresceu. Apenas dois inimigos ameaçavam o basilisco: a doninha, que podia superá-lo com seu mau cheiro e mordida, e o galo, que paralisava-o com seu canto ao amanhecer.

Um galo infeliz devorou o último basilisco conhecido há muito tempo. Rastejando para o interior do mato, a ave condenada transformou-se para atender a alma que agora carregava. O recém-nascido cocatriz podia matar com um olhar ou com o vapor de seu hálito, e podia atacar com o veneno que escorria da cauda de serpente.

Uma malícia irredutível se esconde no coração de um cocatriz, e seu veneno não tem antídoto. O veneno ferve através das veias e cauteriza a carne. Quando essa infusão perversa atinge o coração ou o cérebro, a vítima morre. Nessa altura, ela cai em espasmos e gritos de tormento, os olhos arregalados e brancos. Mesmo após a morte fechar seu véu misericordioso sobre a vítima, o corpo se contrai e balança, castigado com as convulsões e agitação em seu interior.

Todos os cocatrizes são assexuados, nem macho, nem fêmea. O cocatriz se reproduz picando um galo comum. Quando isso acontece, o veneno entra no corpo do galo e forma um ovo, o qual a ave acondicionará de acordo com os espaços em suas entranhas.

Como a magia desapareceu do mundo, os cocatrizes começaram a escolher hospedeiros com menos cuidado. Embora a abominação ainda prefira encontrar galos para carregar seus ovos, é sabido que picam outros animais - até mesmo seres humanos - com a sua farpa fertilizadora.

Enquanto o ovo cresce no corpo da vítima, o hospedeiro fica muito doente. Uma vez que o ovo é expelido (normalmente através das entranhas, mas por vezes, através de outros orifícios ou mesmo feridas abertas), o hospedeiro recobra sua saúde. No entanto, ele ficará maculado para sempre, manchado pela incubação do mal e assombrado por sonhos terríveis. Se, por má sorte, o ovo estourar dentro do hospedeiro, o embrião peçonhento ira se espalhar por todo o corpo. Nenhum destino mortal poderia ser pior que essa agonia....

Extremamente territorialista, o cocatriz protege seu hospedeiro com uma vontade vingativa, assim como o galo guarda suas galinhas. Uma vez chocado, um cocatriz procura locais subterrâneos úmidos e escuros. De hábitos noturnos, ele abomina o sol, embora a luz solar não faça nada mais que irritá-lo. A criatura sulfúrica espreita em regiões agrárias ou selvagens. Um cocatriz jovem deve afastar-se e encontrar seu próprio covil ou desafiar seu pai pelo domínio de seu território. Um filhote tem pouca chance de vencer tal desafio até a maturidade, a menos que o cocatriz dominante esteja velho e moribundo.

Apesar de sua natureza sórdida, um cocatriz raramente ataca a menos que seja encurralado ou seu território esteja ameaçado. O intruso ouvirá um silvo agudo avisando-o; qualquer um que reconheça o som deve fugir imediatamente. Como uma cobra, do cocatriz prefere engolir sua presa inteira e digeri-la lentamente. Uma criatura faminta pode servi-se de carniça, mas apenas quando não se pode encontrar outro alimento.

Hoje em dia

O último registro público sobre um basilisco foi em um documento de nascimentos e mortes Igreja de Varsóvia, datado de 1587. Escrito por monges, o registro afirma que duas jovens irmãs morreram quando expostas ao sopro de um cocatriz em seu porão. Claro, o eventual desaparecimento do cocatriz aos olhos mortais não significa que as criaturas estão extintas - simplesmente que elas foram forçadas a se esconder da humanidade, porque são perigosas demais para serem deixadas vivas. Estes monstros poderiam ser encontrados em locais selvagens ou rurais que forneçam hospedeiros, alimento e lugares escuros para se esconder.

Aparência

Exibindo-se e bicando, deslizando e engolindo, o cocatriz tem uma aparência assustadora. Quando assustado, agita as penas amarelo-ocre e estica suas grandes asas coriáceas. A mandíbula inferior da besta desloca-se, caindo para exibir o interior preto de bico. Quando se acalma, o cocatriz exibi-se sobre as esquisitas patas de frango - enrugadas e cinzas, salpicadas de pontos como as mãos de uma mulher idosa. Saindo de sua extremidade traseira, a cauda do cocatriz possui pele reptiliana, brilhante e lisa como ébano líquido e terminando em um gancho peçonhento. Os olhos de âmbar secular brilham frios e perversos, correndo de um lado para outro. Olhar para um cocatriz é suficiente para fazer qualquer pessoa fugir - ou congelar em terror, enquanto o monstro coloca seu ovo.

Fazendo sua toca em locais escondidos e putrefatos, o cocatriz invariavelmente fica coberto com excrementos ou uma membrana gordurosa advinda de sua última refeição, o que torna fácil sentir seu cheiro bem antes de poder vê-lo. A forma estranha do cocatriz o torna desajeitado, mas a besta não é menos perigosa por sua falta de graça.

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Texto extraído do site Mundo das Trevas.

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