Em
LoA fica bem estabelecido, não dá pra pensar as coisas em termos de
cidades, no mínimo devemos tratar em termos de estados, ou regiões
geográficas ainda mais abrangentes. Motivo pelo qual, cenários como
“Rage Across NY”, são exceções bem questionáveis. Cenários
de lobisomem costumam ser abrangentes e abarcam grandes áreas
geográficas pela própria natureza e mobilidade dos Metamorfos no
jogo.
São
os “By Night” de Vampiro que, em linhas gerais, se restringem aos
limites de uma única cidade ou região metropolitana, em Lobisomem
costumamos tratar de grades regiões geográficas ou umbrais (Rage
Across The Amazon e Rage Across the Heavens) ou até mesmo de países
inteiros (Rage Across Australia, Rage Across Rússia, Rage Across
Egypt). O que nos faz crer que o melhor é focarmos, no mínimo, em
estados ao abordar o cenário nacional para o jogo.
Na
Amazônia, nem sequer trataríamos de recortes estaduais, mais
pensaríamos o cenário regional de conjunto com base no Metaplot da
Guerra na Amazônia, que, com razão, é o plot central em todos os
livros oficiais do jogo que abordam a América do Sul, ainda que a
forma como esse plot seja tratado nos materiais oficiais possa e deva
ser questionado.
Um
Caern no Rio de Janeiro, por exemplo, seria o único ou, talvez, um
dos dois únicos Caerns Garou em todo o Estado. Vampiros estão
atados às cidades pela necessidade frequente de presas humanas para
se alimentar e, na maioria dos casos, restritos a elas pelas
dificuldades de locomoção, afinal, normalmente, para eles, é muito
ariscado viajar durante o dia em segurança e sem chamar atenção.
Lobisomens,
entretanto, não têm essas preocupações, a maioria prefere evitar
grandes concentrações humanas e eles tendem a se movimentam
bastante, cobrindo centenas de quilômetros apenas correndo em suas
formas lupinas ou mesmo viajando por pontes da lua ou percorrendo
atalhos.
Não
faz sentido com o que o jogo estabelece criar um caern em cada cidade
onde há presença Garou. Caerns são raros e uma seita pode cobrir
centenas ou até milhares de quilômetros quadrados. Afinal, o
território que uma seita pode reivindicar está muito além das
estritas divisas de um dado Caern.
Novamente,
uma seita que reclama um Caern em Niterói-RJ, pode ter Matilhas que
surgiram e seguen atuando em diversas cidades de todo o estado do Rio
de Janeiro, e até contar com alguns membros oriundos de outros
estados ou países. Essas matilhas apenas se encontrariam
ocasionalmente no Caern ou se revezariam guardando suas divisas,
apenas se reunindo em Assembléias uma vez a cada ciclo lunar ou algo
assim. É assim que funcionam as coisas em LoA, segundo as
referências oficiais.
Sim,
os suplementos oficiais para o jogo deixam claro que há muitos
locais propícios e caerns abandonados na América do Sul, o problema
é a dificuldade de reunir Garou suficientes para o sucesso do ritual
de criação, e depois, manter guerreiros suficientes para resistir
ao assédio da Wyrm e de metamorfos hostis na região. Mesmo aqui,
Caerns são raros e valiosos.
No
sudeste, onde presumidamente a presença de metamorfos nativos deve
ser consideravelmente menor, tendo em vista a degradação dos
ecossistemas e a raridade de animais nativos, é possível conceber a
presença de Caerns menores, de nível 1 ou 2, o que potencialmente
aumentaria seu número e distribuição, mas no Norte do país, por
exemlo, um Caern precisaria ser relativamente grande e poderoso para
manter uma seita capaz de resistir ao assédio de Metamorfos hostis e
das forças da Wyrm.
Caerns
em áreas urbanas são exceções em LoA. A maioria deles ficariam em
regiões rurais ou selvagens. Mas jogadores em geral, e muitos
narradores também, tendem a inverter as coisas. Todos querem colocar
qualquer areazinha verde no centro de sua própria cidade como um
Caern, como o exemplo do Central Park no manual básico da segunda
edição. Se para isso se lança mão da Regra de Ouro, ok. Mas isto
não é muito coerente com o que o jogo estabelece ao longo dos
livros oficiais.
Em
uma região como o Brasil, onde, segundo a lore do jogo, as áreas
selvagens são dominadas por metamorfos hostis, os Garou tendem a
ficar acuados nas áreas rurais e periféricas, entre os
“sanguessugas” que dominam as cidades e os Feras nas regiões
selvagens. Quando se tem uma perspectiva nacional, do quadro geral, é
importante balancear as coisas. Quantos dos caerns do Brasil são
urbanos? Quantos são rurais? E quantos estão em regiões selvagens?
Em
estados como São Paulo ou Rio de Janeiro, com uma concentração
demográfica bem acima da média nacional, um Caern de nível 3 ou 4
poderia influenciar diretamente mais de uma dezena de municípios,
além de, obviamente, influenciar indiretamente (mas decisivamente)
todo o cenário sul-americano.
Qualquer
totem de matilha com um encanto de ponte espiritual é capaz de
transportar uma matilha inteira para uma distância de até 620 km em
um intervalo de tempo razoavelmente curto e sem necessidade de caerns
em qualquer dos dois extremos da ponte!
Em
apenas 24 horas um lobo cinzento real pode percorrer 200 km sem
maiores dificuldades! Duzentos quilômetros em um dia nem chega a ser
uma marca tão impressionante assim quando se pára pra pensar que
mesmo um reles maratonista humano corre 40 km em apenas duas horas.
Porém, essa distância é significativamente maior do que a
distância, em linha reta, entre Niterói, no Rio de Janeiro, e Juiz
de Fora, em Minas Gerais, por exemplo.
Trace
um raio de 620 km do centro do seu Caern e terá uma boa idéia do
tamanho da área que uma seita pode influenciar diretamente. Todo o
estado do Rio de Janeiro, por exemplo, tem apenas 70 km de leste a
oeste e só 44 km de norte à Sul! A distância em linha reta entre
Rio e São Paulo é de 361,15 km, entre Rio e BH é 341,26 km, entre
Rio e Vitória é 415,95 km. Com uma mera ponte espiritual conjurada
por um totem de matilha, os Garou da um seita em Niterói pode estar
em poucas horas em Paranaguá, no Paraná, ou em Conceição da
Barra, na fronteira do Espírito Santo com a Bahia.
Mais
do que isso, qualquer membro de nossa hipotética seita fluminense,
correndo na forma lupina, pelo mundo físico mesmo, em menos de um
dia poderia chegar a Barbacena, Angra dos Reis ou Volta Redonda. Na
verdade, daria pra chegar a Juiz de Fora em um só dia correndo com
tranquilidade na forma lupina a partir de Niterói! Entende o quanto
isso muda a nossa perspectiva de espaço? Lobisomens são
impressionantes sob qualquer perspectiva!
Outro
aspecto importante a considerar é que os Garou não têm nenhuma
razão para observar as fronteiras arbitrárias traçadas pelos
humanos. Nos limites entre municípios, estados ou países não há
uma linha traçada, e mesmo que houvesse, porque um Garou se
importaria com ela?
Assim,
uma única Seita fluminense poderia influenciar diretamente não
apenas todo o território do Estado do Rio de Janeiro, como atuar
cotidianamente em territórios de estados vizinhos, o que
potencialmente poderá gerar conflitos e proporcionar ganchos para
ótimas histórias.
Obviamente,
quilometragem é algo muito relativo. Divisas naturais de influência
de caerns e seitas realmente não tem motivo para se aterem a
questões humanas, mas serras e rios profundos ou caudalosos seriam
capazes de impor fronteiras naturais efetivas mesmo aos Garou.
Quarenta quilômetros na tundra ou na planície são muito diferentes
de quarenta quilômetros através da Serra do Mar, tanto por exigirem
grandes desvios para serem contornados, quanto pela dificuldade do
terreno. Mas, ainda assim, é necessário considerar a possibilidade
de lançar mãos de pontes espirituais.
Jogadores
e narradores, naturalmente pensam em uma perspectiva de quem
dificilmente deixa os limites de sua própria cidade. Não costumamos
parar para pensar a fundo sobre essas questões de distâncias e de
como a perspectiva Garou sobre distâncias e territórios pode ser
diferente do ponto de vista de meros humanos.
O
senso comum é muito mais próximo de uma perspectiva de Vampiro.
Nossa própria percepção, diferente daquela de lobos, que possuem
territórios inadvertidamente vastos e perseguem presas por dezenas
de quilômetros, é muito limitada. E é ainda mais limitada quando
comparada com a de seres capazes de transpor enormes distâncias
através da Umbra ou de pontes da lua ou espirituais. Não poderia
ser diferente.
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