12 de agosto de 2017

Acima do Monte e Subterrâneo (A História do Underdark de D&D)


Como prévia para o próximo livro que irei disponibilizar, segue um artigo publicado pela REDE RPG em 2016.

Assim como o nome sugere, Dungeons & Dragons teve seu o início no subterrâneo, com aventureiros explorando as profundezas de castelos icônicos como Blackmoor e Greyhawk.
Inevitavelmente, o jogo se expandiu para reinos profundos e cavernas não exploradas – e não demorou muito até que essas cavernas ganhassem vida própria.

INTRODUZINDO O SUBTERRÂNEO

A história do Subterrâneo começa em um módulo de aventura para AD&D chamado Hall of the Fire Giant King (1978), a terceira aventura da clássica trilogia de aventuras contra gigantes escritas por Gary Gygax. Durante o final da aventura, os personagens adquirem um mapa que descreve “vastas cidades subterrâneas ou lugares mais profundos que qualquer masmorra conhecida”.
Esse gancho levou diretamente a Descent into the Depths of the Earth (1978), onde pela primeira vez os aventureiros desceram à profunda e misteriosa terra infestada de devoradores de mentes, fadas sombrias chamadas jermlaines, tríbulos brutais e mais. Descent into the Depths of the Earth foi bem sucedida ao revelar a vastidão contida nas profundezas do mundo. Entretanto, esse mundo se tornou mais vivo com as aventuras que a sucederam, Shrine of the Kuo-Toa e Vault of the Drow no mesmo ano. Nas suas descrições de civilizações inteiras de criaturas parecidas com peixes chamadas kuo-toa e dos elfos sombrios, essas aventuras elevaram tais criaturas de habitantes aleatórios das masmorras à membros de uma sociedade completa e viva. Lutar não era mais a única opção ao se lidar com essas criaturas – e na verdade, qualquer grupo tentando passar pelo Vault of Drow usando somente pancadaria, encontraria um desafio mortal.
Gygax nunca usou o termo “Subterrâneo” (Underdark), mas sua visão única da sociedade subterrânea foi a base para tudo que estava por vir. Foi Douglas Niles que tomou o próximo passo quase uma década mais tarde, quando seu livro Dungeoneer’s Survival Guide (1986) prometia revelar as “desconhecidas profundezas do Subterrâneo”, Niles estava seguindo os passos de Gygax quando ele descreveu o Subterrâneo como “a região das cavernas e reinos abaixo até mesmo das mais profundas masmorras”. Ele povoou aquele reino com muitas das raças usadas por Gygax, incluindo os drows e os kuo-toa, mas também adicionou novos habitantes como os duegar e os myconids.
Mesmo tendo ele inventado o termo Subterrâneo, Niles não o utilizou da mesma forma que os autores posteriores. Para ele, não se tratava do nome de um local específico, e sim de um termo genérico que englobava todo o reino subterrâneo de D&D. Seu Subterrâneo era um kit de ferramentas feito para dar aos Mestres de Jogo a capacidade de criar seus próprios reinos. O Dungeoneer’s Survival Guide incluiu um reino desses: Deepearth. Esse reino meio genérico, criado para se ambientar uma campanha, enfatizou as possibilidades que uma aventura no Subterrâneo teria e se tornou o segundo maior reino do mundo abaixo, depois dos territórios drow e kuo-toa que Gygax havia explorado.
Durante alguns anos, “Deepearth” foi o nome dado aos reinos subterrâneos. A aventura The Mines of Bloodstone (1986) que incluiu o “Kingdom of Deepearth” dos duegar, tinha o mesmo espirito que as campanhas originais de Gygax, mas com novas raças tomando a frente. Referências aos reinos de Deepearth também apareceram em outros livros contemporâneos, como o The Savage Frontier (1988).
Com a segunda edição do AD&D chegando em 1989, o termo Deepearth foi amplamente afastado com exceção das referências às terras Bloodstones dos duergar. Isso aconteceu por causa de um novo personagem que estava aparecendo nas histórias de D&D e trazendo uma nova visão do mundo abaixo.


A EXPLOSÃO DE DRIZZT

Drizzt Do’Urden foi um drow exilado que apareceu pela primeira vez em uma novela de R.A. Salvatore, A Estilha de Cristal (The Crystal Shard, 1988). Desde o lançamento do primeiro livro da trilogia Icewind Dale escrita por Salvatore, Drizzt foi um completo sucesso, devido em grande parte à sua origem misteriosa e seus “anos em Menzoberranzan, ou nos confins do Subterrâneo…”. Com essa única sentença, Salvatore garantiu que o Subterrâneo iria crescer e destronar Deepearth como o nome coletivo para os reinos subterrâneos de D&D – e que os fãs iriam querer saber mais sobre esses reinos.
A década seguinte foi repleta de novelas relacionadas a Drizzt e o Subterrâneo, incluindo a trilogia Dark Elf (1990 a 1991) que contava o passado de Drizzt. Homeland definiu sua terra natal como a cidade drow de Menzoberranzan, Exile revelou o tempo nos confins do Subterrâneo de Drizzt antes de sua vinda para a superfície em Sojourn. Nos anos seguintes, Drizzt de vez em quando retornava à sua antiga casa, com enfase na novela Starless Night (1993).
Enquanto isso, o Subterrâneo foi se infiltrando na segunda edição do AD&D. Livros como o Dungeon Master’s Guide e o Monstrous Compendium Volume Two (ambos lançados em 1989) mencionavam o Subterrâneo, mas um trio de suplementos para Forgotten Realms o fez de forma proeminente. O livro de Ed Greenwood, The Drow of Underdark (1990), deu uma visão ampla e detalhes extensivos sobre a raça dos drow, dando um pouco mais atenção ao seu reino no Subterrâneo. Greenwood também estava por trás da caixa Menzoberranzan (1992), que detalhou com mais afinco as pessoas e a geografia da cidade natal de Drizzt. Também falou de outras cidades drow abaixo de Faerûn e até mesmo mencionou o reino dos anões no suplemento Dwarves Deep (1990). Quase uma década mais tarde, Drizzt Do’Urden’s Guide to the Underdark (1999) detalhou inteiramente o reino abaixo do cenário da campanha de Forgotten Realms.
Enquanto o Subterrâneo de Forgotten Realms estava crescendo e evoluindo durante os anos 1990, a ideia do Subterrâneo também começou a se tornar onipresente em outros cenários de D&D – das cavernas de Greyhawk no suplemento The Illithiad (1998), ao mundo de Birthright com a aventura Labyrinth of Madness (1995). Embora os reinos do Subterrâneo tenham aparecido em aventuras e livros, Night Below: An Underdark Campaign (1995) foi a primeira campanha completa situada abaixo da terra. Essa caixa de luxo detalhou uma aventura para nível quatorze em uma nova região do Subterrâneo. Continha extensos detalhes sobre o cenário e seus habitantes, incluindo novas mentes monstruosas. Drow, kuo-toa e duegar eram noticias velhas; os aboleths eram os novos vilões do mundo abaixo – e um sinal do crescimento das aberrações no Subterrâneo.
Com o D&D concluindo a sua segunda edição, o Subterrâneo acabou se tornando uma das partes mais importantes das histórias de D&D – e se tornaria um componente importante para as edições seguintes do jogo.


O SUBTERRÂNEO MODERNO

Desde 2000, o Subterrâneo foi bem mencionado em uma centena livros da terceira, quarta e quinta edições do D&D. Vários desse trabalhos foram particularmente notáveis.
O foco no Subterrâneo do século 21 começou com o War of the Spider Queen (2002 a 2005), uma série de seis romances focada nos drow de Forgotten Realms. Enquanto isso, o suplemento para Forgotten Realms Underdark (2003) descreveu os reinos drow com uma riqueza de detalhes a partir dos suplementos da segunda edição e dos muitos romances ambientados no Subterrâneo. Os drow ganharam ainda mais atenção com o lançamento do suplemento Drow of the Underdark (2007), mas esse livro era mais focado nos monstros que vivem lá do que na geografia do local.
Enquanto isso, o Subterrâneo se tornou universal com o lançamento de Eberron em 2004. O novo cenário de D&D integrou o Subterrâneo com sua nova mitologia como “Khymber, the Dragon Below” (Khymber, o Dragão Abaixo), que “engloba o Subterrâneo do mundo, o labirinto de cavernas que serpenteia abaixo da superfície e preenche as profundezas do planeta”.
Quando a quarta edição do D&D apareceu, ela conectou o Subterrâneo à sua própria mitologia. Na cosmologia do Eixo dos Mundos, o Subterrâneo tem dois mundo gêmeos sombrios: O Feydark e o Shadowdark. O suplemento Underdark para a quarta edição (2010) detalhou todos os três reinos e os integrou na história do cenário. O Subterrâneo foi revelado como uma criação dos primordiais e palácio do deus maligno, O Rei que Rasteja. O lar dos drow também foi povoada por aberrantes como aboleths, beholders, grells e devoradores de mentes. Assim como em grande parte da cosmologia do Eixo do Mundo, esse era um extra sombrio Subterrâneo, infernal e assustador.
O Subterrâneo ganhou ainda mais atenção com a saga da quarta edição Rise of the Underdark, que se estendeu pela primavera e verão de 2012. Esse cenário de Forgotten Realms descreveu a amplamente anunciada invasão dos drow à superfície do mundo. Into the Unknown: The Dungeon Survival Handbook iniciou a saga com novos temas e raças para personagens que exploravam o Subterrâneo. Jogadores no programa de jogos sancionados de D&D, o D&D Encounters, experimentaram a saga na nona temporada, a Web of the Spider Queen. Em seguida, o suplemento Menzoberramzan: City of Intrigue, trouxe Drizzt de volta à sua casa, bem a tempo para os jogadores se tornarem drow na décima temporada do D&D Encounters, Council of Spiders. Essa saga então foi concluída com um final épico na ultima temporada do D&D Encounters da quarta edição de D&D, War of Everlasting Darkness.
Conforme foi dito, Rise of the Underdark foi a maior saga do Subterrâneo já feita. Com três aventuras, dois suplementos, um número de miniaturas, alguns e-books e algumas antologias, também foi a maior fonte de informação sobre o Subterrâneo. Seria difícil ultrapassar a história da exploração do submundo, mas o terceiro conjunto de histórias lançada na Quinta Edição, Rage of Demons, está tentando. As novas histórias do D&D propõe perguntas como, “E se os oito Lordes Demoníacos decidirem escolher o Subterrâneo como sua nova morada?” As aventuras dessa nova temporada – incluindo Out of the Abyss – dá aos jogadores a oportunidade de responder essa pergunta enquanto eles viajam através do mesmo, velhos e conhecidos lugares do Subterrâneo de Forgotten Realms.


Sobre o Autor

Shannon Appelcline tem jogado RPG desde que seu pai o ensinou o Básico de D&D no início da década de 80. Ele é o editor-chefe da RPGnet e autor de Designers & Dragons, uma publicação de quatro volumes sobre a história da indústria do RPG, contando sobre uma companhia de cada vez.

Tradução: Eduardo Reis Nobre
Equipe da REDERPG

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